Imagine que você já tomou a decisão de iniciar a montagem do seu primeiro pedal de efeito. Caso seja absolutamente novato, é aconselhável que seu primeiro pedal seja o MicroFuzz, disponível aqui no site. Como trata-se de um circuito extremamente simplificado, a primeira coisa que você deve fazer é baixar suas expectativas em relação a qualidade do som produzido por ele. Porém, mais que tudo, este circuito presta-se a responder, na prática, à questão que você deve ter se indagado ao pensar em montar seu primeiro circuito: “-Será que sou capaz de fabricar um pedal?”. A resposta dependerá em muito de seguir algumas dicas.
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Não tente construir um pedal sofisticado antes de primeiramente ter montado circuitos simples. Esta é uma regra que pode ser aplicada a qualquer área de conhecimento. Qualquer mestre de cozinha em qualquer restaurante conceituado não começa sua carreira fazendo pratos elaborados, mas sim pratos simples: primeiro aprende a fritar um ovo e, após anos praticando e aprimorando, pode passar a Lagosta ao Thermidor.
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Não tente montar seu primeiro pedal fabricando em casa sua placa de circuito impresso. A fabricação de uma placa de circuito impresso em casa, dependendo do método e habilidade do construtor, pode corresponder entre 70 a 90 % de todo o tempo que você utilizaria para fabricar um pedal. Porém, pior que isto, é a qualidade da placa. Dificilmente um novato fabricará sua primeira placa de circuito impresso sem nenhum erro. Portanto, mesmo que o construtor siga todos os outros passos necessários à montagem do pedal, conferindo cada componente a ser soldado, tomando cuidado para não fazer solda fria ou queimar algum componente por excesso de calor, é mais provável que o circuito não funcione devido a algum problema de qualidade na placa de circuito impresso, como alguma trilha em curto circuito ou trilha aberta. A técnica de transferência térmica, tão difundida na internet, requer muito mais que prática: somente com alguma sorte podemos obter uma placa de tamanho médio pelo menos utilizável. Após várias tentativas é que fica evidente o quanto é difícil manter algum padrão de qualidade nas placas de circuitos feitas por esta técnica. Placas de tamanho pequeno podem ser feitas, porém placas maiores invariavelmente são feitas com problemas técnicos sérios, como trilhas rompidas, curto circuito entre trilhas ou áreas de preenchimento de cobre que saem falhadas. Até para a produção de uma única placa para teste é mais aconselhável utilizar a técnica de silk-screen, ou serigrafia, que é a técnica utilizada industrialmente. Isto eleva muito o custo e o tempo de produção da placa, porém é a única forma de produzir placas com trilhas finas com um grau de qualidade aceitável, mesmo que ainda longe do grau de qualidade que é conseguido em uma placa de circuito impresso produzida industrialmente.
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Aprenda a soldar. Solde fios, solde componentes, solde resistores em LEDs. Aprenda a teoria, pratique em alguns componentes antes de iniciar a soldagem dos primeiros componentes na placa. Soldar rápido demais pode dar origem à famigerada “solda fria”, que é quando uma solda aparentemente foi feita, porém ao analisá-la de perto podemos ver que a solta não conecta eletricamente os dois materiais. Solda em excesso ou faltando também podem causar problemas de qualidade. Soldagem muito lenta pode queimar componentes ou até mesmo descolar a trilha de circuito impresso da placa. Problemas de soldagem correspondem a quase todos os problemas da construção de um circuito. Depurar circuitos para encontrar falhas já é uma tarefa que toma tempo e exige conhecimento técnico mesmo de construtores mais experientes. Portanto, é muito mais vantajoso se dedicar em fazer a soldagem da forma correta da primeira vez do que ser obrigado a procurar defeitos após o circuito já ter sido soldado.
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Utilize ferramentas apropriadas. Ferramentas apropriadas não significa ferramentas caras. Porém não podemos utilizar um ferro de soldar de 400 W, tipo machadinha, que é utilizado para soldar calhas, para tentar soldar componentes eletrônicos em uma placa de circuito impresso. A atenção principal deve ser tomada em relação ao ferro de soldar, que deve ser de 30 ou 40 W de potência, com ponta fina, como a ponta de um lápis, e em relação ao alicate de corte, que deve ser pequeno, para que o corte dos terminais seja feito o mais rente possível a placa de circuito impresso. Não inicie a soldagem até você se certificar que está com as ferramentas corretas.
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Confira os componentes. Antes de iniciar a montagem, confira todos os componentes que você tem em mãos e verifique se estão com valores corretos. Um simples capacitor com o valor incorreto é o suficiente para que o circuito não funcione. Para cada um dos componentes que forem sendo inseridos no circuito deve ser dada atenção. Conferi-los e certificar se estão com os valores corretos e, no caso de componentes polarizados, se forem inseridos com a polaridade correta.
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Tenha paciência. Em montagens eletrônicas, a pressa é realmente inimiga da perfeição. Cada etapa da montagem deve ser seguida com precisão, por que um erro que passar desapercebido, como uma soldagem mal executada ou a troca de um componente, será muito mais difícil de ser recuperado após a montagem ter sido finalizada.
Somente após algumas tentativas e, eventualmente alguns erros, é que o construtor pode ganhar confiança nas montagens e partir para circuitos mais complexos ou iniciar as experimentações nos circuitos já executados.